Sofia Dória é voluntária do Mais Proximidade, Melhor Vida (MPMV) e acompanha a Dona Fernanda todas as semanas. A Dona Fernanda é acompanhada pelo MPMV há cerca de dois anos. É vítima de artrite reumatóide que lhe limita a mobilidade e, como consequência, a possibilidade de se deslocar ao exterior da sua casa. Certa vez, aquando de um tratamento no Centro de Alcoitãol, descobriu gosto na pintura. O MPMV, através do voluntariado, permitiu que a Dona Fernanda desenvolvesse diversos trabalhos, revelando grande talento, apesar da sua doença. Esta actividade começou com as voluntárias Anabela e Maria (ver artigo), que reconheceram melhorias drásticas sobretudo na disposição emocional da Dona Fernanda. Sofia prosseguiu com a actividade iniciada por Anabela e Maria após responder a um anúncio de voluntariado do MPMV publicado no Facebook, permitindo conjugar a sua vontade em melhorar a vida de alguém com os seus conhecimentos de artes.

 

No dia 24 de Setembro, a Dona Fernanda saíu de casa para um programa diferente das idas à fisioterapia e ao médico. Foi visitar o Museu de Arte Antiga, acompanhada pelas técnicas do MPMV e a sua companheira de pintura, a voluntária Sofia, que nos revela, em entrevista, a importância da pintura na vida da idosa.

Como chegou ao MPMV como voluntária?

Conheci o projecto pela sua fundadora, a Dr.ª Maria de Lourdes Miguel, que é madrinha da minha mãe. Vi no Facebook um pedido de voluntários que preferencialmente tivessem alguma formação em artes e enviei um e-mail.

Que tipo de voluntariado realiza com a Dona Fernanda?

Essencialmente pintamos, sobre tela ou sobre cartão, conforme. Ajudo-a na pintura, escolha do tema, cores, etc. Mas na verdade a pintura é uma forma de a Dona Fernanda poder descontrair, exercitar a precisão dos seus movimentos e “desbloquear” a parte emocional.

Qual a importância desse tipo de voluntariado para a Dona Fernanda?

Nota-se que é muito importante. Quando, por algum motivo, a visita não se vai realizar, a Dona Fernanda fica triste. De umas visitas para as outras, ela fica sempre ansiosa pela próxima semana, e por pegar nos pincéis e nas tintas de novo. Às vezes tenho a sensação que a pintura é o ponto alto da semana dela.

Nota mudanças na Dona Fernanda desde que começou o voluntariado?

Sim, principalmente na parte motora. Nota-se uma grande evolução na precisão do traço e dos movimentos. Em termos de pintura, a Dona Fernanda começou a perceber que alguns tipos de “traço” são mais indicados para ela do que outros, e que “temos de saber viver com o que temos e tirar o melhor proveito disso”. Pinturas de muito pormenor são impossíveis, mas pinturas mais impressionistas ficam excelentes! Esta filosofia anda lentamente a ganhar terreno noutros campos da vida da Dona Fernanda, principalmente na aceitação da sua condição física.

Em que contexto surge a visita ao Museu de Arte Antiga?

A Dona Fernanda só sai de casa quando é imperativo que assim seja. Por exemplo, para a fisioterapia ou para uma consulta. O sair de casa para passear era um sonho. No contexto do trabalho que temos vindo a fazer com a pintura, concordámos que seria interessante um passeio ao Museu de Arte Antiga, dado que seria sempre possível completar a visita com um passeio pelo jardim.

Como reagiu a Dona Fernanda?

Muito bem, estava muito emocionada com tudo aquilo. Acho que não poderíamos ter esperado melhor reacção!

Quais as suas expectativas relativamente ao voluntariado no MPMV?

Fazer-me crescer, saber ter paciência e respeitar o ritmo do outro; é isto que espero da minha experiência de voluntariado e que aos poucos se vai concretizando.